Nesse post vou falar sobre o que considero o trekking mais lindo do litoral paulista. A Travessia Bonete para Castelhanos, uma trilha que percorre todo do Sul da Ilhabela, passando por 7 praias, várias cachoeiras e comunidades caiçaras.

Muitas pessoas fazem o trekking que leva até a praia do Bonete, mas poucas continuam e tentam chegar até Castelhanos fazendo a travessia completa, pois de Bonete para frente a história muda… São mais 18km em + – 6:30 hs (sem contar as paradas para descanso), com navegação difícil, mata fechada, 800 metros de subida acumulada e muitas cobras pelo caminho (vimos 5 nesse dia). Mas é tudo isso que torna esse trekking tão especial.

1° Dia – Trekking da Ponta da Sepituba para a Praia do Bonete

• Distância: 13,56km
• Ganho de elevação: 508m
• Tempo de deslocamento: 3h45
• Tempo total com as paradas: 4h40

Acordamos cedinho em Barequeçaba (São Sebastião), tomamos café da manhã na padaria e pedimos um táxi para nos levar até a balsa para a travessia até a Ilhabela.

Enquanto esperávamos o táxi, fomos abordados por um bêbado, que resolveu nos fazer “companhia”.  Após alguns minutos de conversa, perguntamos o seu nome e ele nos diz:

– Meu nome é Reinal.

– Como? Reinaldo??

– Não é Reinaldo! É Reinal, da música!

– Que música?!!

– Essa aqui! (E ele começou a cantar…)

“Hey now, hey now. Don’t dream it’s over

Hey now, hey now. When the world comes in. They come, they come

To build a wall between us       We know they won’t win”

Kkkkkkkkk o nome dele no RG era exatamente Heynow ! E óbvio que essa virou a trilha sonora da trip.

Voltando para o assunto da trilha… Chegamos na Ilhabela e pegamos um táxi para nos deixar no início da trilha na Ponta da Sepituba. Foi mais ou menos 45 minutos para chegar e saiu R$100,00 em bandeira 2! Mas é possível fazer esse trajeto de ônibus, só que você vai descer no último ponto, chamado Borrifos (que é aonde termina o asfalto) e depois andar mais uns 3-4km até o portão que marca o início do trekking.

Começamos a caminhar umas 10:30. A trilha é bem larga e não existe nenhuma dificuldade em navegação. Você irá passar por vários pontos de água, e 2 ótimas cachoeiras para banho: a Cachoeira da Laje e a Cachoeira Areado, então não se preocupe em carregar muita água, 1 litro sempre é o suficiente até a próxima parada.

A Cachoeira do Areado é a que mais vale a pena parar para tomar um banho e comer o lanche, pois ela fica em uma etapa da caminhada perfeita para um descanso e recuperar as energias. Agora todas as travessias de rios possuem uma ponte de madeira, o que tornou a trilha do Bonete bem mais segura nos dias de chuva e em situações em que os rios estão muito cheios.

30 minutos antes de chegar em Bonete, existe uma trilha de uns 200 metros até um mirante com um visual lindo para o Bonete. Vale muito a pena ir, é a foto de capa desse post. Tem uma placa marcando a entrada da trilha, bem fácil, não tem erro.

No Bonete tem várias opções de hospedagem. Desde pousadas bem bacanas, até quartos em casas de pescadores e campings. Nós ficamos em um camping bem na entrada da Praia que descobrimos na hora. Todas as casas agora tem uma estação para captação de energia solar, então a luz elétrica não é mais problema.

2° Dia – Trekking da Praia do Bonete até Castelhanos

• Distância: 17,88km
• Ganho de elevação: 803m
• Tempo de deslocamento: 6h13
• Tempo total com as paradas: 7h56

Acordamos bem cedo, tomamos um banho frio revigorante (o camping não possui banho quente) e descobrimos que dava para tomar o café da manha em uma pousada ao lado do camping. Comemos bastante e partimos.

Essa trilha passa por 4 praias antes de chegar em Castelhanos. O primeiro trecho vai até a Praia das Enchovas e é bem tranquilo, é uma trilha larga, fácil de seguir e muitas pessoas que estão no Bonete acabam escolhendo fazer essa caminhada para conhecer a praia ou ir até o mirante, que está a 1 km do início da trilha. Os primeiros 2km sao praticamente subida e bem exposto ao sol. Leva mais ou menos 1 hora para chegar e são 3,7km.  A praia é linda, e bem diferente das demais praias da Ilhabela, com muitas pedras na areia.

Praia de Enchovas

Chegando na praia, vimos uma placa “Temos coco” e fomos secos para tentar comprar! Mas na verdade “tinha coco”, a placa estava desatualizada, rsss. Isso fez a gente conhecer o senhor Abelardo, caiçara morador de lá que quis nos levar até o local aonde continuava a trilha e que é preciso cruzar um rio. No caminho ele nos mostrou as árvores frutíferas que tinha, falou o nome das flores, e de todas as plantas no estilo “quiz”: Vocês sabem o nome dessa flor? E dessa fruta? e por ai vai… Acertamos 50% rsss.. Outra coisa ótima é que ele me deu um cajado de madeira, que foi essencial para atravessar o rio com a mochila pesada sem desequilibrar (mais de 20Kg) e também para todo o resto da trilha!

Cruzar o rio foi tranquilo, o mais difícil foi o momento de tirar as botas e de colocar novamente. O borrachudos lá são tão insanos na margem dos rios, que poucos segundos que você fique desprotegido e sem usar repelente te rendem dezenas de picadas!

A partir desse trecho começa a trilha fechada no estilo “single track” com a próxima parada sendo a Praia de Indaiauba, 3km a frente. Logo no inicio vimos a terceira cobra da viagem (verde escura com mais de 1 metro), mas nada que preocupe, elas sempre percebem a gente antes e rapidamente fogem. Mas já deu para perceber que a partir daqui tudo ficava mais selvagem, pelo menos era o que e gente imaginava…

Praia de Indaiaúba

Até que depois de 1h30 caminhando vimos uma placa: “Propriedade particular, você esta sendo filmado” e de repente entramos em um estrada pavimentada, com grama cortada, heliponto, casas enormes e pessoas passando de quadriciclo. Estávamos no condomínio de luxo da Praia de Indaiauba.

Após uma longa descida chegamos na praia, mas antes decidimos tomar um banho em uma pequena cachoeira, que fica um pouco antes do acesso a praia e praticamente deságua no mar! É linda e vimos vários pitus nela (camarões de água doce).

Logo após essa cachoeira existe uma subida bem íngreme para a esquerda, que é o local aonde continua a trilha para Castelhanos, a direita tem o acesso a praia e reto o acesso ao restante do condomínio, protegido por seguranças que ficam de prontidão para impedir que alguém passe. Entramos na praia e sentamos nas pedras para curtir um pouco visual, comer o no nosso lanche de trilha e dar um pouco de “alimento” para os borrachudos.

Rumo a Praia de Castelhanos, o trecho mais difícil da Travessia Sul da Ilhabela

Bom, descansados e revigorados seguimos para o que seria o trecho mais difícil de todo o trekking! Passamos o “portal” e adentramos em uma trilha estreita e fechada, cheia de bambus. Logo começou uma subida interminável com 240 metros de desnível e alguns trechos de 40 graus de inclinação. Confesso que a mochila pesou bem nesse hora… estava muito quente e húmido.

A navegação não foi tão difícil, mas tiveram muitos trecho com árvores caídas que foi preciso desviar e ter mais cuidado para voltar para trilha correta. Vimos mais 5 cobras, durante esse trajeto até Castelhanos. Fiquei bem impressionado com a quantidade de cobras que vimos durante toda a travessia, realmente existem bastante nesse local. Das 7 que vimos nos 2 dias 1 era a Caninana (Cor preta com amarelo) e as outras 6 eram um de cor verde escura de mais de 1 metro sempre, mas que não consegui descobrir o nome (quem souber por favor me diga que eu atualizo no post).

Um pouco antes da Praia vermelha você terá que cruzar um rio e lá tem um bifurcação, pegue o caminho para a praia mesmo, existe outro por trás, mas é uma navegação mais difícil e no meu ponto de vista não vale a pena. Chegando na praia ande pela areia até o final dela e você verá uma trilha no canto do morro. É só seguir e você irá chegar na Praia Mansa e logo depois mais uns 20 minutos em Castelhanos!

Chegando em Castelhanos

Caminhamos uns 8km de Indaiaúba até Castelhanos e levamos um pouco mais de 4hs. Foi um trecho bem duro, no nível de intensidade que você fica bemmmmm aliviado quando chega!

Paramos na primeira cabana de madeira que vimos na praia para comprar uma cerveja e comemorar a travessia e lá mesmo já contratamos o carro 4×4, como próprio dono do quiosque, para nos levar no dia seguinte de volta ao centrinho da Ilhabela! Saiu R$ 350,00 para um grupo de 7 pessoas.

Acampamos no camping do Léo (R$15,00 por pessoa) e foi ótimo, tinha banheiro com banho quente (apesar de ter preferido tomar um banho frio mesmo a céu aberto), áreas cobertas com lonas e enormes caranguejos que ficavam passeando pelo camping todo. A noite as vezes eles resolviam escalar a sua barraca! rsss

3° Dia – Trilha Cachoeira do Gato e retorno de 4×4 para o centro de Ilhabela

• Distância: 5,54km
• Ganho de elevação: 220m
• Tempo de deslocamento: 1h30
• Tempo total com as paradas: 1h51

Acordamos bem cedo para ver o nascer do sol e tirar algumas fotos. Estava realmente especial. Marcamos o nosso transporte  para às 13:00 então o plano era ir cedo até a Cachoeira do Gato, almoçar, desmontar acampamento e zarpar!

A trilha começa no canto esquerdo da praia e tem 4km ida e volta. A cachoeira tem 40 metros de altura. Não é recomendado tentar entrar no poço bem embaixo da cachoeira pois as pedras lá são super escorregadias, mas existem outros ótimos locais para banho ao longo do curso do rio.

Voltando para a praia resolvemos comer no restaurante do Fernando que fica bem no inicio da trilha. Almoçamos um peixe grelhado delicioso (obs: lá não aceita cartão). Inclusive ele possui um chalé para alugar lindo! É um ótima dica para quem quiser fica hospedado em Castelhanos com conforto mas sem perder a vibe rústica do lugar.

Desmontamos acampamento, colocamos tudo na mochila e caminhamos até cruzar o rio aonde fica o final da estrada que leva até Castelhanos. Agora para está proibido os carros cruzarem o rio. Todos são obrigados a deixar seus carros antes e atravessarem a pé pela água ou pela ponte de madeira nova. 

Subimos na caçamba da pickup e partimos de volta para a civilização pela estrada que corta o Parque Estadual da Ilhabela, que por sinal estava em ótimo estado e sendo arrumada. Assim finalizamos a travessia da parte sul da Ilhabela Bonete para Castelhanos! Espero voltar muitas vezes!

Se ainda sobrar alguma energia eu recomendo fazer a trilha da Água Branca que inicia na portaria do Parque e tomar um banho revigorante nas pequenas cachoeiras de lá. 

Informações gerais da travessia Bonete para Castelhanos

O que levar

• Mochila cargueira (tente não deixar nada muito fora da mochila para não enroscar nas partes de trilha fechada)
• Mochila bem pequena e leve para a trilha da Cachoeira do gato. Recomendo uma da Sea-to-summit chamada Ultra-sil Daypack que fica minúscula. Eu sempre levo ela na mochila comigo.
• Repelente. Leve bastante, você vai usar o tempo todo! Os borrachudos são vorazes!
• Bastão de caminhada. Acho muito útil para poupar um pouco as pernas
• Lanterna de cabeça. Muito importante pois pode acontecer sim de demorar mais do que deveria na trilha e ter que terminar à noite.
• Botas ou tênis de trekking, com meias altas para proteger dos borrachudos

Comida

• É possível comer em restaurantes tanto na praia do Bonete como em Castelhanos, então não é essencial levar fogareiro e comida para jantar, mas eu sempre gosto de levar como segurança mesmo, e no final das contas foi uma boa pois deu mais liberdade de não depender dos horários de funcionamento desses lugares e em Castelhanos teve uma confraternização da comunidade local bem no dia que chegamos e nada abriria. O macarrão com atum no fogareiro salvou!
• Leve lanche de trilha e snacks
• A água das cachoeiras e córregos do caminho é potável

Onde ficar (Bonete).

Importante: é proibido acampar na praia

• Pousada Canto Bravo
• Bonete Casa Charme
• Camping do Eugênio
• Pousada Porto Bonete

Onde ficar (Castelhanos)

• Camping do Léo
• Chalé do Fernando (Whatsapp12 992318241)

Onde ficar na Ilhabela

• Para encontrar campings na Ilhabela veja no site: Barraca Livre

Números totais da travessia sul da Ilhabela Bonete para Castelhanos

• Distância: 37,08km
• Ganho de elevação: 1531m
• Tempo de deslocamento: 11h30
• Tempo total com as paradas: 14h23
• Números de cobras vistas: 7
• Rios para cruzar: 7
• Praia visitadas: 6