Você já se imaginou mergulhando entre duas placas tectônicas, com uma visibilidade de 100 metros, temperatura da água de 1 grau, externa de -15 e no caminho de volta para o hotel ainda ver a aurora boreal?! Esse lugar se chama Silfra!
Foi exatamente em busca dessa experiência que eu resolvi ir para a Islândia durante o inverno! A aventura era mergulhar na “Fissura tectônica de Silfra”, que é um lugar único no mundo.
Fatos interessantes sobre Silfra
- Silfra é o encontro entre a placas continentais Americana e da Eurasia. Inclusive tem alguns locais que se você esticar os braços é possível tocar nas duas placas ao mesmo tempo!
- Possui uma das águas mais claras do mundo, com visibilidade que pode ultrapassar 100 metros! Isso em baixo d’agua é praticamente a sensação de enxergar o máximo que os seus olho alcançam.
- A topografia subaquática é composta de rochas de lava vulcânica e fundo de areia em alguns trechos. Possui várias pequenas cavernas nos paredões de rocha, mas não é muito convidativa a sua exploração… já que a Islândia toda é uma região de alta incidência de atividade sísmica e existe risco de desabamento a qualquer momento.
- É necessário o uso de “roupa seca” para mergulho por causa da temperatura da água. Para quem não está familiarizado com esse equipamento, é como se fosse uma roupa impermeável que é vedada no pescoço e pulso e você fica seco por baixo, usa inclusive um macacão térmico. Com esse equipamento não é preciso usar colete flutuador (BCD), pois a própria roupa faz esse papel. A flutuabilidade fica diferente já que o ar percorre a roupa toda, mas da para se adaptar rápido!
Quantos mergulhos é possível fazer em Silfra?
Fazer esse mergulho em Silfra no inverno obviamente torna o desafio mais extremo. Apesar da temperatura da água ser a mesma no verão e no inverno, a temperatura externa chega facilmente a – 15 graus (o que foi o nosso caso) e tudo fica mais complexo. Durante o trajeto de van até chegar em Silfra, perguntei para o guia se iríamos fazer 2 mergulhos e ele me respondeu que normalmente quando a temperatura está a baixo de 10 graus negativos eles não fazem o segundo mergulho pois seu corpo não consegue se aquecer a tempo no intervalo entre um mergulho e outro. Fiquei meio desapontado na hora mas depois mais tarde entendi perfeitamente o que ele estava querendo dizer…
Preparativos para o Mergulho
Chegando no estacionamento, logo começam com os preparativos. Você precisa colocar a roupa seca, vestir a bota, a luva de neoprene, checar equipamento, verificar se tudo está bem vedado, esperar todo mundo ficar pronto (nessa hora os pés já estão congelados pois estamos o tempo todo pisando na neve) e caminhar por uns 500 metros até chegar no lago carregando tudo.
Você já chega tremendo de frio, e considerando que irá entrar em uma água a 1 grau de temperatura, requer uma certa dose de força de vontade para dar o primeiro passo, mas o visual do lago no inverno com a paisagem toda coberta de neve é algo indescritível!
Entrando na água
Depois do choque inicial da água gelada você começa a anestesiar. O mergulho é surreal! A visibilidade é algo inimaginável (100 metros com certeza) e estar entre os paredões de rocha e saber que de um lado está a placa continental Americana e do outro a placa da Eurasia torna essa experiência mais única ainda.
O mergulho em Silfra dura uns 45 minutos e termina em uma área aberta linda com fundo de areia e uma escada de aço que por sinal grudou as nossas luvas no corrimão ao sair, de tão frio que estava.
Congelados após o mergulho
Você sai tão adrenalizado e empolgado com a experiência que nem se dá conta do frio que está passando. No meu caso estava ainda pior, pois entrou água na roupa seca (não vedou tão bem a região do pescoço) e eu estava com o peito e o braço direito encharcados.
Caminhamos pela neve os 500 metros até a Van e começamos a tirar os equipamentos e a roupa “supostamente” seca. Esse momento acho que foi o pior de todos. Ficar praticamente de cueca, com cabelo e corpo molhados a -15° de temperatura me fez entender na hora o porque que não se faz o segundo mergulho!
Meus pés estavam tão congelados que eu voltei a sentir meus dedos 2hs depois no hotel! Fiquei realmente preocupado que fosse um congelamento mais sério e o dive master me garantiu que iria demorar, mas eles voltariam a vida. Ah, e que me devolveria o dinheiro caso eu perdesse um dedo! rsss Tinha uma turista do Japão no grupo que estava com uns “dreadlocks” de gelo no cabelo quando entrou na van, sempre tem alguém situação pior que você na verdade rssss.
Mergulhar em Silfra foi uma experiência incrível e tive o prazer de ter a companhia do meu grande amigo Felipe que topou a aventura e também me acompanhou na escalada da Face Norte do Monte Elbrus no ano de 2017, a montanha mais alta da Europa, localizada na Rússia.
A Islândia é um país super interessante e perfeito para quem gosta de aventura e natureza. Ir no inverno é uma experiência completamente diferente, o país todo fica coberto de gelo e neve, a paisagem se transforma e você tem a chance de ver a Aurora Boreal. Amanhece por volta dás 11:00 e escurece às 15:00 e dependendo do local visitado é preciso de carros adaptados com pneus enormes para atravessar a neve.
Sai de lá com a certeza de um dia voltar no verão e conhecer a Islândia por outro angulo. Existe muito o que explorar!
Agora se eu tive o presente de ver também a aurora boreal? Sim! 😉
Dicas para mergulhar em Silfra
- Chegar na Islândia parece algo complexo, mas na verdade até que é bem fácil e rápido. As melhores opções são: Voo direto de São Paulo para Londres ou Amsterdã e dessas cidades mais um voo direto de +- 2:30h e já está lá em Reykjavik, a capital da “Iceland”
- É possível agendar esse mergulho facilmente em qualquer agencia de turismo da cidade ou nos próprios hotéis e sai praticamente todos os dias, mesmo no inverno!
- Apesar de ser um mergulho que se usa roupa seca e de frio extremo, as operadoras não exigem certificação especial para isso. Você pode ter apenas a certificação básica Open Water. Eles farão uma explicação previa sobre o uso do equipamento e etc.
- Leve uma roupa tipo primeira pele para colocar por baixo do macacão para complementar a proteção térmica. E também uma muda de roupas extras caso entre água. Como no meu caso. Voltei para o hotel molhado.
2 respostas para “Silfra, o mergulho gelado entre duas placas tectônicas na Islândia”
Sensacional!!!
Muito bom!